Se na vida a única certeza que temos é a de que um dia a morte virá, na vida de ciclista existe uma outra: a de que antes da morte, um furo virá. Um dia, o pneu da bicicleta - provavelmente o traseiro - vai furar. Acontece nas melhores famílias, com os mais experientes ciclistas, e não raro nos piores momentos. Acontece com pneu velho ou novo, clincher ou tubular, 19mm ou 28mm. Pode acontecer em asfalto rugoso, em concreto liso, em chão batido. É causado por caco, parafuso, arame, prego, não raro praga e em casos extremos preçe.
O fato é que um dos dois pneus, um belo dia, vai furar. E depois dessa vez, vai furar outra. E como tudo o que acontece uma vez pode não acontecer a segunda, mas tudo o que acontece duas vai acontecer mais um monte de vezes, ao longo da vida de ciclista faz-se necessário trocar vários pneus.
A partir dessa certeza, tanto o atleta que já foi vítima do furo quanto aquele que ainda espera a sua vez na fila são levados a tomar uma série de providências para, por um lado, prevenir os furos e, por outro, consertá-los caso a prevenção não funcione.
Essa série de providências deveria, na minha limitada visão, seguir os passos abaixo:
1) Aprenda a Trocar Pneus
- estupidez maior que achar que um pneu nunca vai furar é não aprender a trocá-lo. Trocar pneus de bicicleta, seja tubulares ou clincher, é fácil, não dói, não deforma os dedos e não requer inteligência acima da média. Basta paciência para aprender e boa vontade ao praticar. Uma vez sentindo-se confiante para lidar com a troca, aí sim vale a pena partir para tentar minimizar os furos. O que realmente não dá é para não aprender achando que "comigo não vai acontecer".
2) Tenha Bom Senso
- evite passar por cacos de vidro, pedras e buracos; - evite colocar pressão acima dos 120 PSI; - evite andar com câmaras remendadas 20 vezes; - tenha cuidado ao utilizar espátulas para não "morder" a câmara; - tenha cuidado ao montar a câmara para que ela fique bem encaixada no pneu; - se o pneu furar, antes de colocar a câmara nova inspecione com cuidado o interior da banda de rodagem, tentando sentir cacos, arames ou pedaços de metal que possam estar alojados na borracha;
3) Utilize Proteção
Além das regras de bom senso mencionadas acima, que são gratuitas, existem outras formas - pagas - de minimizar os furos;
- Fita anti furo: se bem colocada, funciona como uma barreira de proteção que retém cacos, arames e outros detritos pequenos antes que esses atinjam a câmara; quem quiser economizar pode instalar apenas no pneu traseiro, que é o que mais fura. A marca conhecida por aqui é Mr. Tuffy;
- Selante (preventivo): passível de utilização tanto em tubulares como clincher, o líquido anti-furo é colocado dentro da câmara, e veda com eficiência furos de até 3mm. Além disso o dano já é considerado corte, e cortes não podem ser estancados. Costuma funcionar bem, mas deve ser removido após 6 meses em média, sob pena de estragar o pneu ou câmara. Duas marcas conhecidas no Brasil são Tufo e Continental;
- Selante (para viagem): segue o mesmo princípio do líquido acima, porém ao invés de ser injetado antes do furo, esse, mediante um spray, é injetado no pneu após o furo. O objetivo é ao mesmo tempo encher o pneu com ar e com o líquido anti-furo. Nem sempre funciona, mas quando funciona é o meio mais rápido de lidar com um furo, pois não é necessário nem mesmo remover a roda. Basta injetar o líquido na válvula, completar a pressão com bomba manual ou CO2 (o spray original raramente completa as 110 ou 120 libras padrão). Marcas conhecidas: Pit Stop, Michelin Stop & Go, Cafe Latex Espresso;
- Câmara anti furo: nada mais é do que uma câmara que já vem com 50ml de líquido anti furo. Joe's No Flats é uma das marcas que circulam por aqui.
- Pneu velho dentro do pneu novo: esse é um método old school, meio tipo Gambiarra, mas que funciona. Basta pegar um pneu velho, cortar as laterais e colocá-lo por dentro do pneu novo, exatamente como a fita anti furo. Só é preciso paciência depois para tirar esse pneu e a câmara de dentro do pneu novo.
- Pneu com proteção anti-furo: alguns fabricantes colocam camadas adicionais de proteção contra furo em seus pneus mais nobres. Um exemplo é o Vectran da Continental.
Com relação a esses tipos de proteção, sempre surgem dúvidas principalmente para quem vai fazer alguma prova. No caso de ciclistas, a preocupação é bem menor porque em geral há um carro de apoio com rodas extras prontas para serem instaladas. Já no caso de triatletas, como não há suporte móvel, cada um tem que levar seu próprio remédio embarcado.
Nesse caso, a escolha nunca é fácil. Todas as alternativas tem seus prós e contras, e todas funcionam em alguma medida. Quando alguém me pergunta "qual a melhor alternativa", eu escapo pela tangente dizendo que a melhor é aquela que cabe no seu bolso, literal e figurativamente. Quanto menos despesa e menos tralha pra levar, melhor.
A única ressalva é que no caso dos selantes para viagem, bem como dos CO2, é altamente recomendável fazer um teste ou dois para ter segurança na hora de usar de verdade. Em outras palavras, aprenda a usar essa mer** em casa antes de sair na rua.
Postado por Max
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